3 de janeiro de 2012

LIVROS LIDOS - 2011

Segue uma lista dos livros que li esse ano.
Dou destaque ao livro "A menina que roubava livros" de Mark Zusak. É com certeza o melhor livro que ja li até hoje. Um livro sobre crianças na alemanha nazista, o livro tem uma linguagem poética e a visão inocente de uma criança contrastando com um ambiente pesado e assustador da alemanha nazista. Realmente surpreendente e sensacional. Vale a pena ler!


# Título Autor Lido em
1 Harry Potter and the Philosopher's Stone (#1/7) J.K. Rowling jan/11
2 Harry Potter and the Chamber of Secrets (#2/7) J.K. Rowling jan/11
3 Harry Potter and the Prisioner of Azkaban (#3/7) J.K. Rowling jan/11
4 Harry Potter and the Goblet of Fire (#4/7) J.K. Rowling jan/11
5 A cabeça de Steve Jobs Leander Kahney jan/11
6 Honoráveis Bandidos: um retrato do Brasil na era Sarney Palmério Dória fev/11
7 Uma Breve história do Mundo Geoffrey Blainey fev/11
8 O processo Franz Kafka fev/11
9 Ensaio sobre a cegueira José Saramago fev/11
10 Caim José Saramago mar/11
11 O Véu (#1/2) Willian da Silva Nascimento mar/11
12 The girl with the dragon tatoo (#1/3) Stieg Larsson mar/11
13 The girl who played with fire (#2/3) Stieg Larsson mar/11
14 Harry Potter and the Order of Phoenix (#5/7) J.K. Rowling abr/11
15 Harry Potter and the Half-Blood Prince (#6/7) J.K. Rowling abr/11
16 Harry Potter and the Deathly Hallows (#7/7) J.K. Rowling abr/11
17 Poker for Dummies Richard D. Harroch; Lou Krieger mai/11
18 Kindle 3 For Dummies Harvey Chute; Leslie H. Nicoll mai/11
19 Ur (kindle special) Stephen King mai/11
20 Riding the Bullet Stephen King mai/11
21 The picture of Dorian Gray Oscar Wilde jun/11
22 Hollowland (the Hollows #1) Amanda Hocking jun/11
23 (ss/s) Necromancer: A Novella Lish McBride jun/11
24 (ss/s) Out of the box #1 Kallysten jun/11
25 (ss/s) Sex Stalker #1 Darren G. Burton jun/11
26 Lethal People John Locke jun/11
27 Elite da tropa 2 Luiz Eduardo Soares jun/11
28 Hold me closer, Necromancer Lish McBride jul/11
29 Flies for the Mayans (a novella) Ian Fraser jul/11
30 Texas Hold'em for dummies Mark Harlan jul/11
31 Winning Low Limit Hold'em Lee Jones jul/11
32 The girl who kicked the hornet's nest (#3/3) Stieg Larsson ago/11
33 Harrington on Hold'em #1 Dan Harrington ago/11
34 A menina que roubava livros Mark Zusak set/11
35 O menino do pijama listrado John Boyne set/11
36 O morro dos ventos uivantes Emile Brontë set/11
37 Harrington on Hold'em #2 Dan Harrington nov/11
38 A maldição do Cigano (thinner) Stephen King nov/11
39 Cao Raivoso Stephen King dez/11

6 de janeiro de 2011

HP 1 - Harry Potter e a pedra filosofal

RESENHA
Everson Alencar
31/12/2010
HP 1 - Harry Potter and the Sorcerer's Stone
Johane K. Rowling
e-Book
Editoras:
Bloomsbury, 1997 (UK)
Scholastic, 1998 (USA)
Rocco, 2000 (BR)

"There is no good and evil,
there is only power
and those too weak to seek it..."
Quirrell (personagem), capítulo XX, HP 1.

A série do pequeno bruxo Harry Potter conquistou o mundo. O livro já foi traduzido para mais de 67 línguas. Como tudo que faz sucesso, gerou críticas e incitou polêmicas. Muito criticado por religiosos, curiosos, críticos literários, etc. Esse é o primeiro livro da série, são 7 no total, um para cada ano escolar do Harry.
O livro começa na rua Privet Driver nº4. Uma casa ordinária, numa rua ordinária e com uma família desagradável. Mas, o dia é especial. Bruxos comemoram secretamente a derrota do maior vilão dos últimos séculos, Lord Voldemort. O vilão matou James e Lílian Potter (pais de Harry), entretanto, ao tentar matar o menino algo inexplicável aconteceu e o vilão sumiu. O herói, com um ano de idade e órfão, é deixado na porta da casa dos tios, A família Dursley.
Dez anos mais tarde, no 11º aniversário de Harry, que vivia uma vida miserável nas mãos dos tios intolerantes e preconceituosos e sem saber nada sobre o quão famoso e especial ele era no mundo dos bruxos, é convocado para estudar na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Os tios tentam impedir Harry de receber as cartas de convocação, Uncle Vernom chega aos limites da sanidade quando resolve esconder a família numa ilha isolada. Mesmo assim, Hagrid ( o guarda chaves de Hogwarts) vai pessoalmente entregar a carta e ajuda Harry a comprar o material de estudo em um beco mágico de Londres, o beco diagonal.
Destaca-se o contraste entre os dois mundos de Harry, um em que ele é desprezado e outro em que ele é uma celebridade. Da noite pro dia a vida de Harry é invadida de novidades mágicas e surpreendentes.
Harry ainda tem que encontrar a plataforma 9 ¾, e para isso tem que ter fé para atravessar uma parede de tijolos entre a plataforma 9 e 10 da estacao de londres. Na escola, Harry passa pelo chapéu seletor e é direcionado para a escola de Grifinória. Mas, nem tudo é festa. No mesmo ano que em um mundo mágico se abre à vida de Harry ele também se vê envolvido em uma trama complexa da luta entre o bem e o mal. Existe uma substancia química, a pedra filosofal, que é o elemento chave para transformar metal em ouro e para produzir o exilir da vida. Ou seja, é a chave para a riqueza e a eternidade. E existem forças sombrias tentando roubar essa pedra que foi trancada a 7 mágicas no corredor do 3º andar de Hogwarts.
O bruxo Harry e seus novos amigos se  vêem desafiados a tomar partido nessa luta. Para isso eles têm de escolher entre quebrar as regras da escola, podendo ser expulsos, ou ficar inertes diante da situação.
Se é que o livro tem alguma pretensão de discutir assuntos mais profundos, pode-se dizer que o tema desse primeiro livro gira em torno do clássico dualismo do bem e do mal.  Destacando-se a frase de Quirrel no capítulo “X”, “Não existe o bem ou o mal, existe apenas o poder e os que são muito fracos para procurá-lo”. Voldemort não morreu, mas também não tem força para atuar sozinho. Ele representa o próprio mal e depende de pessoas como Quirrel para se materializar e atuar no mundo. Mas, sempre, têm pessoas dispostas a atuar do lado da maldade, seduzidas pela promessa de poder, riquezas e outras vantagens.
Outro assunto que se destaca é a questão da eternidade e da morte. Destacando-se a frase de Dumbledore sobre seu amigo Nicolas Flamel não ter mais acesso ao exilir da vida, “”.
E também chama a atenção o prejulgamento que os heróis fazem do professor Snape. Eles têm certeza que o professor esta tentando roubar a pedra filosofal. E a percepção deles, ao longo de todo o livro, encontra elementos que corroboram com essa opinião. Mas no final, prova-se que acontecia exatamente o contrário.
E por fim, o livro destaca o poder do amor. Quando o professor Quirrel, dominado pelo espírito de Voldemort, tenta matar Harry ele não consegue, pois a magia do amor de sua mãe foi tão forte que é insuportável para as forças do mal ultrapassá-lo.
Depois de se provar mais do que celebridade, mas também um verdadeiro herói, Harry tem agora que voltar para a casa dos Dursley, seu mundo não mágico, e passar os 2 meses do verão para depois voltar para mais um ano letivo em Hogwarts, onde mais aventuras os esperam.

30 de dezembro de 2010

Dom Casmurro - Machado de Assis


RESENHA
Everson Alencar
30/12/2010

Dom Casmurro.
Machado de Assis.
e-Book: EditoraPlus.org
disponível em " http://www.simplissimo.com.br/store "
acesso em 30/12/2010
 
A obra  foi publicada pela primeira vez em 1899, é considerada um clássico da literatura brasileira classificada como pertencente ao movimento literário do Realismo. O livro apresenta uma estrutura fragmentária não-linear composta por 148 capítulos curtos.

É escrita em primeira pessoa e o narrador-personagem é Bento de Albuquerque Santiago. Já de meia idade, alcunhando de Dom Casmurro, para variar a monotonia da vida, resolve escrever um livro. Acudiram-lhe alguns assuntos. Jurisprudência, filosofia, política... Decidira escrever "história dos subúrbios". Mas, fatigado por antecipação pela necessidade de coletar dados, documentos e datas; e, por sugestão dos quadros pendentes na parede (Nero, Augusto, Massinissa e César) decide escrever sua autobiografia. Detalhe não explícito no livro: esses personagens têm em comum o fato de terem assassinado suas esposas por acusação de adultério.

No início do livro, o narrador-personagem explica o título e o motivo. Dom Casmurro é a alcunha que adquiriu por seus hábitos reclusos e calados. E um dos motivos declarados do livro é atar as duas pontas de sua vida: a adolescência esperançosa e alegre, e a velhice "casmurrenta".

Mais da metade do livro (do capítulo 3º ao 97) gira em torno dos 15 aos 17 anos do personagem. Período em que sente a angustia de estar dividido entre a paixão recém descoberta pela vizinha Capitu e a promessa divina da mãe a Deus de fazê-lo padre. Nesse período Bento morava na casa de sua mãe viúva (D. Glória), seu tio Cosme, sua prima Justina e o agregado José Dias. Bento vai para o seminário, mas já comprometido com Capitu a mudar esse destino e se casar com ela.

Bento, depois de idéias e tentativas diversas, se liberta da dívida divina através do argumento lógico de que se sua mãe havia prometido ordenar um padre a Deus, esse padre poderia ser outra pessoa que não Bentinho, seu filho. Fruto do seminário é a amizade de Bento com Ezequiel de Sousa Escobar.

Mas, apesar de fisicamente mais volumoso, essa luta por concretizar seu amor por Capitu não é o tema central do livro. O tema central é o ciúme e o adultério. Livre do seminário, Bento se forma em Direito e finalmente casa-se com Capitu. Escobar casa-se com Sancha, amiga de Capitu, e o que se segue são capítulos que descrevem uma vida gloriosa e agradável. Até a morte de Escobar.

No velório (capítulo 121) Bento observa o olhar de Capitu para o morto Escobar. Somando-se e subtraindo-se diversos elementos tratados ao longo do livro, e principalmente o fato de Bento ver o filho crescer cada vez mais aparentado à Escobar que a ele mesmo, Bento conclui que Capitu o traiu com seu melhor amigo. É quando surge finalmente o Dom Casmurro. Fica cada vez mais insuportável ver o filho como fruto de outro, até o ponto de pensar em suicídio ou assassinato.

Aconteceu mesmo o adultério? Esse é o grande trunfo do livro que tem instigado gerações de críticos desde o lançamento do livro. Uns dizem que sim, outros dizem que os elementos apontam para não e outros ainda dizem que o objetivo do livro é deixar cada leitor concluir por si mesmo.

Com seus capítulos curtos e suas frases belas, simples e agradáveis o livro é leitura altamente recomendada. Seu enredo envolvente, as pistas fragmentadas e sortidas contidas nas linhas dessa obra e a curiosidade por saber mais sobre o que aconteceu criam um ritmo que conduz rapidamente ao final do livro. E depois de lido, fica uma sensação de que a opinião a que o leitor chega, seja ela qual for, faz parte do livro.

20 de novembro de 2010

O Papel da Ação Social na Evangelização e Missão na América Latina

RESENHA
19.11.2010
Everson Alencar [*]


NASCIMENTO FILHO, A. J. O Papel da Ação Social na Evangelização e Missão na América Latina. Campinas: LPC Comunicações, 1999. 105 p.


Antônio José do Nascimento Filho é graduado em teologia pelo Seminário Presbiteriano do Recife (1980) bem como Mestre (1991) e Doutor (1993), também em Teologia, pelo Reformed Theological Seminary - RTS em Jackson, no Mississipi, EUA; é também Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo. Além de um currículo invejável, o autor é reconhecido pelos amigos e pelos alunos por seu carisma, sua erudição bibliográfica e experiência obtida em mais de 30 anos de atuação teológica.

O livro é fruto da tese de Mestrado obtida em 1991 que veio a ser publicada no Brasil pela LPC no ano de 1999.

A título de contextualizar a obra, cabe lembrar a Guerra Fria que compreendeu o período entre o final da Segunda Guerra Mundial (1945) e a extinção da União Soviética (1991). Guerra essa que se deu, sobretudo, em âmbito ideológico distorcendo e contorcendo termos como social, ação social, socialismo e afins. Neste entrecho que é possível compreender a importância e riqueza de uma obra desse nível.
Se hoje, teoricamente, a ação social é bem aceita e até estimulada o livro pode, a princípio, parecer desatualizado e fora de contexto. Mas, ao longo da leitura, percebe-se a perpétua relevância do assunto que deve ser SEMPRE resgatado.

O capítulo 1 (Contexto do problema e sua significância) introduz brevemente o contexto da América Latina posicionando-a como uma região de grandes possibilidades por trás dos obstáculos das diferenças sociais.
Com relação à obra, esse capítulo define:

1. O problema: refletir sobre a relação entre atividades sociais e evangelismo
2. As pressuposições básicas: parte-se do ponto de vista cristão protestante
3. A terminologia:
a)    Missão (derivada do latim missio (enviar). Sentido amplo: tudo que a igreja faz; sentido estrito: atividade missionária entre povos de culturas diferentes)
b)    Evangelismo (derivado do grego euaggélios (boa-nova). Sentido amplo: tudo que a igreja faz para proclamar o reino de Deus; em sentido estrito: três categorias: evangelismo entre os não alcançados, entre culturas diferentes e aprofundar o evangelho entre os já alcançados)
4. E a metodologia: combina análise bíblica, teológica e histórica.

O capítulo 2 (A revisão da literatura) inicia citando alguns conceitos de igreja segundo o que ela é, o seu papel, suas tarefas e sua comissão divina. Sendo que a essência da igreja reside na sua missão de anunciar o evangelho, pergunta-se “como anunciar eficazmente?” A fé cristã não pode se limitar à proclamação verbal. Ela deve se tornar mais sensível ao sofrimento humano e mais envolvida no alívio.
O contexto da América Latina sugere os seguintes desafios:

1. Doenças, drogas e alcoolismo: problema que deixa até as autoridades dos estados pessimistas, e quanto menos assistência social há disponível, mais difícil para o usuário livrar-se da armadilha;
2. A situação da igreja: o sec. XIX apresentou um crescimento extraordinário do protestantismo, situação que preocupou até mesmo a Igreja Católica. O autor enxerga um grande potencial missionário para essa região, que tem aspectos semelhantes ao da Antioquia bíblica, como, por exemplo, seu caráter multi-étnico e cosmopolita.
3. Desafio social: observa-se, mesmo entre os evangélicos, os efeitos da explosão demográfica, da desesperança social e da incredibilidade política, que refletem em altas taxas de pobreza, violência, etc. Desse contexto já surgiram movimentos que se situavam ou no extremo social (teologia da libertação e movimentos marxistas-socialistas) ou no extremo espiritual relegando-se à inatividade e sustentando que o céu seria a compensação para a pobreza. Mas o autor ressalta que evangelismo proclamado fielmente satisfaz não somente as necessidades das almas, mas também as materiais.

Inicia-se então uma discussão sobre qual a relação entre missão e evangelismo. E entre evangelismo e ação social. Seriam semelhantes ou distintos? O livro não conclui a questão, apenas cita opiniões que passam por diversas matizes desde quem defende ser a única obrigação da igreja salvar almas à posição de que é dever da igreja prestar assistência social a TODAS as pessoas. Apesar de pouco exploradas, essas perspectivas levam a refletir sobre as conseqüências que essas diversas nuances conceituais podem produzir quando definidas conscientemente pela igreja.

O capítulo 3 (Fundamentos bíblicos e teológicos na questão social) parte em defesa da ação social como parte da missão da igreja. Para isso, realça diversos argumentos dentro do Antigo Testamento bíblico, no Novo Testamento e em doutrinas fundamentais do cristianismo.

O Antigo Testamento revela a preocupação de Deus com os desfavorecidos. Cada vez que aparecem as palavras pobre, necessitado, oprimido, forasteiro, etc. Elas são dotadas de conteúdo moral se relacionando com a exigência de justiça divina. Pois, o Senhor é o Deus que ama a justiça e odeia a maldade. Esse apelo social é representado na lei de Deus para o povo, que normatiza o jubileu (a cada 49 anos os escravos são libertos, as dividas suspensas e a terra retorna aos proprietários) o ano sabático ( a cada 7 anos devem descansar a terra, os escravos e os animais) o dízimo do 3º ano (que é reservado para ficar na cidade de origem e servir aos estrangeiros, órfãos e viúvas) e a respiga (que sugere deixar parte da colheita para os pobres). Coerentemente, os profetas têm como ponto central em seus ministérios proclamar a justiça social.

O Novo Testamento, diferente do que muitos podem pensar, não veio anular o Antigo, pelo contrário, aclara-o e o consuma. A nova aliança condensa o apelo social em dois mandamentos o de amar a Deus e amar ao próximo. E a exegese de Jesus deixa clara a grande dimensão da palavra próximo, abraçando todos, até mesmo os inimigos. Não sobram dúvidas que biblicamente a missão da igreja é mais que proclamação verbal.

A construção teológica também é rica em argumentos pró-social. A doutrina de Deus o apresenta como Deus de justiça e misericordioso. Deus preocupado com a humanidade e Deus cujo caráter é modelo de ação para os cristãos. A doutrina de Cristo é clara no seu empenho social, no seu coração amoroso e nos seus exemplos de serviço sacrificial. A doutrina do Reino reforça a exigência da pratica social, pois, mesmo sendo a igreja uma sociedade dos homens, o reino é governo de Deus, cuja vontade foi revelada e deve ser obedecida. A doutrina do homem qualifica o valor da vida humana, portadora da incalculável Imago Dei. E por fim, a doutrina da igreja defende sua dupla identidade. Chamada para apartar-se da maldade do mundo, mas também enviada ao mundo para testemunhar a salvífica mensagem de boas novas.

No capítulo 4 (O testemunho histórico e a ação social cristã) a história da igreja é maravilhosamente apresentada de uma perspectiva que foca os momentos em que o evangelho foi fielmente pregado e vivido. Os frutos são argumentos incontestáveis sobre o fato de que a missão da igreja é mais que mera proclamação verbal, mas também atitude social.

Por duas vezes em Mateus Cristo desafia os críticos a ir e aprender o que significa misericórdia (Mt9.13; 12.7) Misericórdia é bondade e compaixão independentemente de que quem a receba não possa retribuir ou mesmo quando a severidade é merecida.

A primeira igreja cristã era minoria, mal compreendida e constantemente desafiada a praticar misericórdia. Os exemplos de misericórdia ocorrem tanto em nível individual (Tiago, Pedro, Paulo, etc.) como em nível institucional (doações, assistências sociais, etc.).

Misericórdia também é encontrada nos exemplos dos pais da igreja cuja fé era traduzida em palavras e ações. Com uma fé simples, acreditavam na volta iminente de Cristo, temiam o julgamento e tinham grande esmero em atender à Grande Comissão. Na era Constantiniana a assistência social tornou-se monopólio da igreja que estabelecia e mantinha hospitais, orfanatos, abrigos, etc.

Na idade média a institucionalização da igreja atingiu seus extremos, mas as contribuições sociais do monasticismo não podem ser ignoradas. Tiveram grande importância na atividade missionária, na educação, na agricultura e na luta contra a pobreza e a opressão.

A reforma teve um grande aspecto social observado nos próprios ícones da reforma. Tanto Lutero quanto Calvino têm um testemunho histórico de envolvimento ativo nas causas dos oprimidos, dos estrangeiros e dos desfavorecidos. Apesar da ênfase de Lutero de que a contribuição social não garantia o perdão dos pecados, reflexo de sua luta contra as indulgências, ele não descartava o valor das boas obras, e escrevera uma carta aberta ao Estado solicitando reformas sociais e econômicas em favor da vida dos pobres. Calvino, mesmo na qualidade de refugiado da guerra religiosa, nunca deixou de acolher outros refugiados com abrigo e comida. Sua sensibilidade para as necessidades e a posição do individuo dentro da sociedade rendeu frutos permanentes na área educacional, de caridade, etc.

Os movimentos cristãos pós-reforma têm em comum o desejo de renovação da igreja, a proclamação do evangelho e o comprometimento social. Criam que o Reino de Deus, um reino de justiça, podia e devia ser buscado ainda aqui na terra. Foi assim com o movimento pietista, o reavivamento wesleyniano, os despertamentos da América do Norte e os movimentos missionários protestantes. Charles Finney defendia que o evangelho impulsiona à reforma social, a negligência aflige o Espírito Santo e impede o reavivamento.

No capítulo 5 (Conclusões e recomendações) o autor resume brevemente o conteúdo visto cujo objetivo é compreender o papel da atividade social na missão evangelística da igreja. Em suas recomendações o autor se centra em três ênfases. Primeiro, não negligenciar o contexto de onde a mensagem do evangelho é proclamada. Jesus é o modelo. Identificou-se e interagiu com a cultura judaica de sua época transcendendo-a. O evangelho é vivo e se dá em interação contínua com a cultura de destino. Segundo, a igreja é uma comunidade misericordiosa e amorosa. O comprometimento de levar a mensagem integral para o homem integral é cada vez mais relevante na missiologia. Terceiro, ênfase nas escolas confessionais e na assistência médica. A educação é de grande importância, e tem sido uma estratégia valorosa para o protestantismo no sentido de fomentar a esperança social e o crescimento integral da sociedade. A assistência médica tem sido não só estratégia de penetração do evangelho em diversas regiões desoladas, mas também motivo de orgulho e motivação para missões. Significa, a exemplo direto do ministério de Cristo, arrebanhar pessoas demonstrando amor e compaixão, pois “Jesus andou curando, ensinando e pregando a boa-nova do Reino”.

O livro deixa a impressão de ter ficado no raso. Por exemplo, quando se discute Missão e Evangelismo (p.23) são citadas cinco opiniões que os consideram termos semelhantes e quatro que concluem serem termos distintos. Mas, fica em aberto qual a proposta do livro, ou a conclusão sobre as implicações de se optar por uma ou outra, se irrelevantes, inconcludentes, etc. O mesmo ocorre quando se relaciona ação social e evangelismo (p.26).

Apesar de o livro se delimitar muito claramente ao contexto da América Latina, pouca informação sobre a região é passada. Tanto os dados como as recomendações são em termos gerais. Desde Lausanne 1974 muito se tem produzido em termos de teologia integral, e a América Latina é um expoente no assunto. Mas, praticamente todo embasamento do livro é Europeu ou Norte Americano. Assim fica alheio à proposta de ser “local” que o título oferece.

O autor, pessoalmente em uma conversa, esclareceu que a tese original somava mais de 480 páginas. A editora se mostrou interessada em publicar, mas, alegando estar preocupada com o ambiente cultural brasileiro, que segundo ela “brasileiro não gosta de ler”, reduziu drasticamente o volume da obra para 105 páginas.

Se por um lado o livro deixa a desejar na contextualização América Latina, por outro lado sua contribuição para o diálogo evangelismo, missão e ação social é inestimável. Fica incontestável que existe uma relação inseparável entre evangelismo e reforma social. Relação triplamente confirmada: na bíblia, na teologia e na história. E o livro é um grande passo nesse diálogo que tem relevância perpétua devendo ser sempre pensado, discutido e fomentado.


[*] Everson Alencar é bacharel em Comunicação Social (2006) e estudante de Teologia no Mackenzie (inicio 2009).

19 de novembro de 2010

Mary e Max - uma amizade diferente

RESENHA - FILME
 Everson Alencar [*]



“Mary e Max – Uma amizade Diferente” (“Mary e Max”). Drama. Animação. Austrália. 2009. 93 minutos. Roteiro, Direção, Animação: Adam Elliot.

Trata-se de uma animaçao adulta que apresenta uma imagem da sociedade humana vista pelo angulo do sofrimento e da solidão de pessoas comuns. Afinal de contas, quem é perfeito e satisfeito consigo mesmo?

Mary é uma criança australiana não-popular. Nem o pai, operário de chão de fábrica, nem a mãe, alcoólatra e ladra de supermercado, lhe dão atenção. Na escola é ridicularizada por causa de uma marca de nascença que tem na testa. Mary tem um galo de estimação e fabrica seus próprios brinquedos com itens de segunda categoria como restos de ossos de galinha.

Max mora em Nova Iorque, tem 40 anos e é judeu, ateu e desiludido com a vida. Mantém apenas três objetivos: ter um estoque de chocolate; completar sua coleção de bonecos dos noblets (um desenho animado); e ter um amigo de verdade (pois um imaginário ele já tem).

Mary lê uma lista telefônica americana, nota que os nomes são bem diferentes dos nomes australianos e se questiona se a vida por lá também seria diferente. Resolve escrever uma carta para um nome escolhido aleatóriamente. É então que as histórias se cruzam e essa troca de correspondência viria a durar mais de 20 anos. Dessa forma, por meio das cartas, o filme desenrola inúmeras críticas, filosofias e pontos de vista sobre os mais variados assuntos da vida moderna. Partindo de duas cosmovisões antagônicas, a de uma criança e o de um idoso, o enredo leva o telespectador a muitas reflexões.

De forma muito ironico-satírica, pelo lado da Mary, as mazelas da sociedade são vistas por uma criança. É com sabor ácido-azedo que se recebe a descrição que a menina faz dos hábitos de "pegar emprestado" de sua mãe alcoólatra, o hobbie mórbido de seu pai (embalsamar pássaros mortos), o "bullying" que sofre na escola por sua marca de nascença "cor de cocô", e outros.
Do outro lado do mundo, Max, recebe as perguntas, entra em crise por ser confrontado com o diferente, mas responde do seu modo, impregnado de desilusões e fracassos e transbordando esperança de ter um amigo real.

Entre esperanças e desesperos, altos e baixos, desilusões e pequenos gestos a narrativa vai tecendo uma imagem interessantíssima da amizade, da vida e da sociedade.


Sugestões de discussão:
- !!! o mundo real e o mundo fantástico dos meios de comunicação (comunicação social): será que o mundo eh perfeito como mostra a mídia? será que é tao distorcido como mostra o filme? ...
- pontos de vista / cosmovisão (filosofia):
 a. o da criança e o do idoso
 b. o de quem quer curar e o de quem não quer ser curado
 c. iguais e diferentes
- Dialética (filosofia): o confronto dos opostos.
- família e determinismo social
- estruturas sociais (?)
- judeu ateu (teologia)
- doenças psicológicas no mundo moderno (psicologia)

[*] Everson Alencar é bacharel em Comunicação Social (2006) e estudante de Teologia no Mackenzie (inicio 2009).

Resenha: O monge e o executivo

RESENHA

Everson Alencar [*]
al.everson@gmail.com

HUNTER, James C. O monge e o executivo: uma história sobre a essência da liderança. Editora Sextante. São Paulo, 1998.

O livro de James C. Hunter "O monge e o executivo: uma história sobre a essência da liderança” (Sextante, 144 páginas) apresenta uma abordagem simples, clara e quase pueril sobre liderança. Mas, o conteúdo é profundo, revolucionário e provocador. A proposta de liderança servidora é uma completa inversão do sistema atual de liderança empresarial.

O autor é consultor-chefe da J. D. Associados, uma empresa estadunidense de treinamento e consultoria em relações de trabalho, fundada em 1985. Como palestrante, professor e escritor (aproximadamente 2 milhões de livros vendidos no mundo) atua principalmente nas áreas de liderança funcional e organização de grupos comunitários.

O livro é sucesso de vendas no Brasil, consta entre as diversas listas de livros mais vendidos do país. A linguagem, conforme dito, é bastante simples e envolvente. Em forma de narrativa o autor apresenta uma história fictícia e enquanto os personagens vivenciam suas experiências o autor desenvolve seus argumentos sobre liderança.

A estória é sobre John Daily, um empresário, que apesar do sucesso financeiro se percebe impopular e infeliz. Na família, no emprego e até no serviço voluntário (treinador de beisebol) John é criticado, e se vê pressionado a participar de um treinamento de liderança promovido num mosteiro beneditino.
No mosteiro, John e mais cinco participantes passam uma semana sob os cuidados e o treinamento de Simeão (Leonard Hoffman), uma lenda empresarial conhecida por resgatar empresas em colapso que sumiu após a morte da esposa. Nos sete capítulos do livro os participantes compartilham e discutem suas experiências sobre liderança. O próprio leitor sente-se como se fosse também um aluno daquela classe aprendendo sobre liderança servidora.

O livro defende que a sociedade empresarial moderna fundamenta-se sobre um paradigma de liderança herdado dos modelos de guerra, no qual o poder emana do topo (generais/gerentes) para baixo (soldados/empregados). Reservado ao cliente sobra o lugar de inimigo. Sendo esse molde obsoleto, o autor propõe uma inversão nessa pirâmide. O papel do líder passa a ser o de servir e satisfazer as necessidades LEGÍTIMAS dos liderados. Ele é, então, responsável por remover os obstáculos do caminho para o que grupo possa evoluir suas atividades com perfeição.

Na base desse modelo encontram-se os seguintes valores:

1. Liderança. Diferente de gerenciar (para coisas), liderar é ter consciência de que se está lidando com pessoas. Nesse processo existem duas dinâmicas: uma que se concentra na tarefa (foco nos resultados) e outra que se centra no relacionamento (foco na satisfação das necessidades legítimas dos colegas).

2. Autoridade. Poder é exercido pela coerção e corrói os relacionamentos. A autoridade exerce-se pela influência e exige o exercício constante da habilidade de ser relacionar. É a essência da liderança eficiente e eficaz.

3. Serviço e sacrifício. É o preço pago para exercer liderança com base na autoridade e não poder.

4. Amor. A definição de amor presente no livro é a mais genial contribuição da obra. Baseando-se na diferença linguística existente no idioma grego - que apresenta quatro palavras diferentes para as nuances do amor - o autor define amor ágape como sendo comportamento – pois, ancora-se na decisão consciente – e não apenas sentimento (algo inconstante e incontrolável).

5. Vontade. Intenção sem ação é simplesmente nada! Vontade é a intenção associada às ações.
Do impacto que causa a apresentação desse novo modelo de liderança surgem diversos outros temas que também são tratados ao longo da narrativa. Por exemplo, a importância de valorizar o saber coletivo, o ouvir corretamente, modelos históricos de lideres, diferença entre comprometimento e envolvimento, etc. Os temas são exemplificados pelas próprias experiências dos personagens e são bastante enriquecedores seja na aplicação para a liderança empresarial, ou, seja no aspecto da auto-gestão.

"O monge e o executivo" é um livro agradável de ler e que promete, nos temas e na forma aparentemente simples de se apresentar, causar um impacto profundo no comportamento do leitor extrapolando o simples apresentar-uma-nova-opção de liderança para debater uma nova filosofia de vida.

[*] Everson Alencar é bacharel em Comunicação Social (2006) e estudante de Teologia no Mackenzie (inicio 2009).

Sobre resenhas...

"Antes de ler qualquer livro, sempre, leia as resenhas!"

Dica que recebi, gostei e repasso.

É difícil chegar a um consenso sobre o que é resenha. Parece que cada professor no rumo acadêmico da nossa vida entende resenha de uma forma diferente.

A ABNT existiria para dar fim a esses conflitos, mas nunca vi nada menos acessível e elitizado do que as normas ABNT.

Resenha nao é resumo.
Resenha é resumo crítico.
Resenha é somente aquilo que já foi publicado em revista científica.
Resenha é...
e por aí vai.

Se nem posso dizer exatamente o que é resenha, então O QUE PRETENDO AQUI?!
Tentarei responder.

Primeiro, gosto de ler.
Mas, depois de um certo volume de informação, a cabeça vira uma verdadeira pândega. Dezenas de livros, ideias, fontes, assuntos... tudo gritando na mente a cada vez que se discute certo assunto. Surgem as "auto-perguntas": quem disse isso mesmo? Onde foi que eu li isso? Será que eu li isso? ...
Organizar não é tarefa fácil. Exige uma busca constante de novas técnicas e formas de adminstrar essas informações. Entre elas, as que mais gostei e aplico são:

> Mind Maps (análise) Durante a leitura. Ajuda a organizar e relacionar as informações de forma visual. Permite uma releitura muito rápida das principais ideias do livro a qualquer momento.

> Resenhas (síntese) Depois da leitura. É como espremer o cérebro para não desperdiçar nenhuma ideia e melhor aproveitar o tempo dispensado na leitura da obra. E me serve para melhorar a articulação dos argumentos em forma de texto escrito. (Pois é, não encaro resenhas como método de tortura dos professores com os alunos, mas já encarei dessa forma.)
 
E o método das minhas resenhas?
 
Não sou um mestre resenhador (ainda). Sofro muito para montar um texto, ele não sai naturalmente ou por dom divino. Mas quem sabe a prática torne esse processo menos doloroso. E se é dificíl um concenso sobre O QUE É a resenha, mais ainda sobre como fazer.
Tentarei seguir métodos mais científicos (baseado nas que leio de revistas cientificas), mas algumas serão somente comentários mal-tecidos dos aspéctos que mais me marcaram na obra. Deixo claro que me dou liberdade para fazer as resenhas da forma que melhor me aprazer.

Segundo, por que não compartilhar?
Se gosto de ler resenhas antes de ler livros, e as leio, é porque alguem as compartilhou. Então sigo a regra de ouro "faça aos outros o que gostarias que fizessem por ti".

Terceiro, sem críticas nao há progresso.
Desejo ardentemente receber críticas e sugestões. Tanto sobre a forma de escrever quanto sobre o conteúdo; também dicas de como melhor me organizar, métodos de estudo, leitura, arquivamentos e etc.

[Sendo franco, talvez ninguém nem mesmo leia meus textos, muito menos critiquem, mas por que não tentar, hein?]

Leitores sobreviventes até esta última linha, eu vos agradeço muitíssimamente a atenção!